Há 4 anos, o médico Ricardo Pereira Braga vivia – como a própria cidade do Rio – um momento de felicidade e entusiasmo. Estávamos nos Jogos Olímpicos, e ele se voluntariou para atender aos atletas de todo o mundo. Olhando para o momento atual, em que atua na linha de frente do combate ao coronavírus, não consegue evitar a comparação:
– Era outra realidade. Agora estamos nessa atmosfera de preocupação. As duas experiências foram muito intensas, embora opostas. Agradeço a Deus por ter podido vive-las – diz Ricardo, natural de Pouso Alegre (MG).
Em Minas, neste período de pandemia, ficaram a mulher (também médica) e a filha, de apenas 3 anos. A distância trouxe um trauma à pequena, que começou a perder cabelo durante a quarentena. Já se recupera, felizmente, após ficar com apenas 20% do que tinha antes. Mas o caso, de fundo emocional, serve como prova de que a tela do celular não faz milagres. Privada do convívio com o pai, sentiu o baque.
– A gente fazia contatos diários, videochamadas. Mas não é a mesma coisa, precisava ter o contato pessoal – avalia Ricardo, agora de férias e assistindo presencialmente a recuperação da filha.
Ricardo, que faz residência em clínica e em pediatria, cita o fato de o coronavírus ser um desafio novo como uma das grandes dificuldades em seu combate.
– Ainda estamos aprendendo. Era uma doença desconhecida, e lidar com um universo desconhecido não é fácil. Foi intenso e sacrificante, porque também teve a privação familiar – lembra.
Porém, o médico enxerga o copo meio cheio, no atual momento.
– Acho que o momento é de otimismo, mas a gente precisa tirar lições. Nada na vida é por acaso. Temos que aprender com isso tudo. Que isso gere um sentimento de reflexão social, do que vale a pena. A vida de toda a sociedade mudou. Temos que refletir sobre o que vale a pena. Um vírus parou nossa vida.
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